Na noite do dia em que se soube que o Dr. Paulo Portas tinha apresentado a demissão do cargo de Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, oficialmente por discordar da solução que o primeiro-ministro tinha encontrado para suceder ao Dr. Victor Gaspar nas Finanças, fiquei como muitos portugueses mais atento aos noticiários televisivos e, num deles, retive a observação atenta de um comentador a sublinhar que Portas e Gaspar utilizaram a mesma palavra “atempadamente” nas respetivas cartas de demissão.

Como as cartas são públicas, fui conferir a curiosidade da palavra em comum. Victor Gaspar utilizou-a para se referir à ausência atempada de um mandato que lhe permitisse concluir, em nome do Governo, o sétimo exame regular perante a Troika (o que o fragilizou em Maio e para o futuro), enquanto Paulo Portas o fez para garantir que informou, a tempo, o primeiro ministro da sua discordância quanto à escolha da sucessora de Gaspar, o que não evitou a adivinhada rutura entre ambos.

Victor Gaspar diz que o mandato que recebeu para as negociações no sétimo exame regular da Troika não lhe foi conferido a tempo, enquanto Paulo Portas diz que as dúvidas levantadas para a solução de continuidade nas Finanças foram colocadas ao primeiro-ministro a tempo de não serem adotadas. Há, nestes dois atempadamente, alguns desfasamentos no tempo que não são de todo em todo irrelevantes.

Infelizmente, estes desfasamentos não são os únicos. São apenas os mais inesperados por terem vindo a público no seio do Governo e no próprio dia da tomada de posse da nova ministra das Finanças, tão inesperadamente que até o senhor Presidente da República desconheceria esta situação a escassas horas da cerimónia de tomada de posse da ministra indigitada para suceder a Victor Gaspar – mais uma originalidade da nossa política.

Pior do que estes desfasamentos são os que fraturam a nossa sociedade opondo de forma radical os que só veem na austeridade a única solução para os nossos males, aos que não querem ouvir falar em apertos em nome de uma reconhecida necessidade de crescimento que passa, entre outros aspetos, pelo aumento da procura interna e por um combate eficaz ao desemprego, nomeadamente entre as gerações mais jovens.

O País já não tem muito tempo para ignorar estes desfasamentos. Não sendo politólogo, como agora se diz de quem faz reflexão sobre a política, permito-me, como empresário e como dirigente do movimento associativo empresarial num sector sensível como é o da Construção e do Imobiliário, em consonância com a opinião de muitos empresários com quem tenho debatido estas questões, lembrar que com ou sem eleições antecipadas, o que temos de evitar a todo o custo é este clima de impasse permanente que não facilita qualquer solução viável.

O importante para o país é potenciar um clima mais recetivo a uma espécie de compromesso storico eficaz, como o que voltou a inspirar o atual governo italiano, numa ampla frente capaz de tentar conciliar as posições que se confrontam como sendo as melhores para Portugal e para os portugueses.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 08 de Julho de 2013 no Diário Económico

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