Há, aparentemente, uma Política Europeia de Austeridade Comum, uma PEAC ou algo que o valha, que está farta de substituir Governos na Europa. O presidente grego, Karolos Papoulias, ainda não tinha substituído Papandreou por Papademos, na cadeira do Poder da Grécia, e já o presidente italiano, Giorgio Napolitano, anunciava ao país uma promessa do primeiro-ministro Sílvio Berlusconi a garantir a demissão após a aprovação das medidas de austeridade previstas para a Itália.
O novo homem forte da Grécia (país que assustou toda a Europa da crise do Euro quando admitiu a realização de um referendo, entretanto esquecido, sobre as políticas de austeridade) é físico que entretanto se doutorou em Economia e que, nos últimos tempos, tem ocupado cargos de relevo em Bancos Centrais, quer nos Estados Unidos (Boston), quer na Grécia (o próprio Banco da Grécia), quer como vice-presidente do Banco Central Europeu, ao lado de Jean-Claude Trichet.
Esta tendência de colocar homens ou mulheres que sabem apertar cintos em postos decisivos da governação política dos Estados, seja como chefes do Governo seja como titulares de Ministérios que, pela sua natureza, gastam mais dinheiro (como é o caso dos Ministérios da Saúde e da Educação), não é nova e até já nos chegou, pelo menos desde os governos de Cavaco Silva, quando o presidente, então primeiro-ministro, escolhia economistas para aquelas pastas.
Com o evidente objectivo de colocar um Ministro das Finanças em quase todos os ministérios para tentar fazer o que todos dizem ser possível, isto é, “mais e melhor por menos dinheiro”, variação comum de expressões como “Menos Estado, Melhor Estado” ou, dito à maneira menos politicamente correcta das Troikas, políticas de austeridade credíveis que devolvam a confiança aos mercados, secundário incluído.
As decisões politicas, que durante anos, muitos dos quais bons e de desenvolvimento, fizeram o primado da acção governativa dos Estados europeus, com o forte pendor social que os prestigiou, estão a dar lugar, com consequências que ainda não estarão exaustivamente avaliadas e projectadas, ao pragmatismo que as Economias de Mercado exigem, numa espécie de fim anunciado da politica, tal como, durante anos, a entendemos, ou seja, o governo das coisas públicas.
É neste ponto que, Irlandeses, Portugueses, Italianos, Franceses, Belgas, Espanhóis e muitos outros povos começam, uns mais do que outros, a verem-se mais gregos do que os Gregos, em nome da tal PEAC ou algo que o valha, na esperança – que é sempre a última a morrer – que tanta solução e remédio para as nossas Economias não seja fatal à própria Economia, por nos esquecermos da Política.
Luís Lima
Presidente da APEMIP
luis.lima@apemip.pt
Publicado no dia 18 de Novembro de 2011 no Sol