Vender património ao desbarato, projetando, ilusoriamente, um rápido escoamento de ativos imobiliários indesejáveis, como serão os que se acumulam na banca portuguesa, é opção que traduz uma vontade, não assumida, para a desistência.

Esta moda começa por manifestar-se nas condições excepcionais e únicas de financiamento dadas a quem pretende adquirir casas que integram os stock de ativos imobiliários dos bancos (o que só por si seria bom se não fosse oferta única)  e acaba na trágica desvalorização do património.

As condições privilegiadas de financiamento para aquisição das casas dos bancos, ainda se compreende, mas a desvalorização sistemática dos preços, já quase adquirida como “normal” por quem procura essas pechinchas, é que não se compreende pelos nocivos efeitos colaterais.

O mercado imobiliário português que teve e quer continuar a ter um papel dinamizador da Economia e que soube, por múltiplas razões, evitar uma bolha imobiliária, pode implodir de forma estrondosa se esse fenómeno da quebra artificial dos preços continuar.

Diferentemente do que inicialmente poderia pensar-se, a solução de vender ao desbarato não resolve o problema da acumulação de stocks imobiliários indesejáveis como ativos da banca, antes gera o contrário.

A banca recolocará alguns desses ativos no mercado, mas receberá muitas outras dações, em resultado da implosão do mercado, o que inevitavelmente fará aumentar o crédito malparado no item do crédito para a habitação, cujo montante anda próximo de um ano dos nossos PIB.

É uma grande bola de neve que subitamente se dissolve e gera uma enorme inundação.

Luís Lima

Presidente da APEMIP e Presidente da CIMLOP

Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa

luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 17 de novembro de 2012 no Expresso

Translate »