Quase em vésperas de S. Martinho, os americanos foram às urnas e elegeram Donald Trump para suceder a Barak Obama na presidência dos Estados Unidos da América, numa eleição que contrariou a maioria das sondagens que davam como quase certa a vitória de Hillary Clinton. O eleitorado dividiu-se e, fintando os institutos que estudam a opinião, escolheu o candidato que se apresentou contra o sistema, numa disputa muito renhida.
Algo muito semelhante ao que aconteceu, pelo S. João, no Reino Unido quando quase dezassete milhões e meio derrotaram dezasseis milhões e pouco num referendo sobre a permanência ou não do reino na União Europeia. À data o resultado inesperado causou algumas apreensões dentro e fora do Reino Unido, com os mercados que exportam para a Grã Bretanha a temer a desvalorização da libra e os britânicos a desagregação do país.
Como veio a provar-se, o impacto do Brexit (o vocábulo que traduz a saída do Reino Unido da União Europeia) foi menor do que muitos temiam, quer na desvalorização da libra face ao euro quer aparentemente na secessão de algum dos países constituintes desta união política, ou seja, a Escócia, a Inglaterra, a Irlanda do Norte e o País de Gales, apesar de haver tradição em processos de secessão naquelas ilhas.
Um referendo como o que gerou o Brexit não se compara com as eleições presidenciais que ditaram a eleição de Trump e, por consequência, não se coloca suspeitas de secessão, por exemplo do importante Estado da Califórnia, onde Hillary Clinton obteve mais de 60% dos votos expressos, mesmo considerando que também nos Estados Unidos da América há tradição forte de processos de secessão.
O que é comparável nos dois actos de manifestação da vontade das populações é que em ambos venceu o protesto contra o sistema, mais ou menos doseados com algum populismo, e à revelia das indicações que as sondagens foram dando, quase como se os votos do protesto nunca fossem assumidos na totalidade aquando da prestação de informações para os institutos de estudos de opinião. Há nestas votações o denominador comum de um generalizado descontentamento relativamente à política dominante, uma espécie de desencanto.
Mas nada, para já, que assuste os mercados. Mesmo que se diga o contrário.
Luís Lima
Presidente da CIMLOP
presidente@cimlop.com
Publicado no dia 14 de Novembro de 2016 no Jornal Económico