Nos finais de 2005, quando a França enfrentava uma profunda crise social bem localizada e identificada nas cidades satélites das grandes cidades, como Paris e Lyon, a Reabilitação Urbana das periferias foi sempre apontada como fazendo parte da solução de um problema também potenciado pelo aumento do desemprego, principalmente entre os jovens.
O colapso das classes médias e valores de desemprego que em certas regiões de forte concentração urbana chegaram a atingir os 25%, em cenários urbanisticamente degradados, criaram as condições ideais para uma contestação social que, no caso francês, o mundo testemunhou quase em direto. Nicolas Sarcozy era então ministro do Interior no Governo de Dominique de Villepin.
Hoje, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) alerta para o regresso de mais agitação social, em muitos países da Europa e até em Economias emergentes, onde estão a adotar-se medidas sérias de austeridade e onde o desemprego voltou a crescer. Para a OIT o emprego tem de crescer, anualmente, pelo menos 1,3% para que se consiga, em 2015, os níveis de emprego anteriores à crise.
Mais do que nunca, as opções politicas devem incorporar soluções que apontem para uma maior coesão social e para a adoção de uma transparência e de uma equidade irrepreensíveis quanto à distribuição dos sacrifícios que a crise global e generalizada está a provocar em muitos setores populacionais de muitos países. Sob pena de vermos ampliados os problemas que a França enfrentou nos finais de 2005.
Em Portugal, a Reabilitação Urbana e a regeneração de muitos espaços urbanisticamente degradados pode ser um importante contributo para a recuperação de muito emprego perdido no setor da Construção e do Imobiliário (projetam-se dezenas de milhares de postos de trabalho), parte do qual suscetível de ocupar gente de menor formação inicial e sem idade para adquirir mais competências.
Este comboio da Reabilitação Urbana, para usar uma expressão de um membro do atual Governo para quem este desígnio nacional é um que mais nos devia mobilizar, pode, entre nós, fazer a diferença e estancar tendências socialmente explosivas que olham muito mais para a Economia que sustenta o Sistema Financeiro do que para a chamada Economia real que afeta a generalidade das pessoas.
Em síntese, a solução que parece realmente estar a funcionar, nomeadamente em Economias emergentes onde o emprego cresce, aponta para a adoção de politicas macroeconómicas que combinem investimento, produtividade, crescimento económico e emprego. Nenhum destes fatores pode ser descurado, sob pena de podermos gerar desequilíbrios impossíveis de gerir.
Estancar o desemprego e criar emprego é condição indispensável para uma coesão social sem qual não haverá condições para que os mercados em que assenta o sistema politico em que vivemos continuem a funcionar, em normalidade.
Luís Lima
Presidente da APEMIP
luis.lima@apemip.pt
Publicado no dia 18 de Janeiro de 2012 no Público