Dominar o uso de eufemismos, essa figura da linguagem que visa suavizar situações pouco suaves, é competência obrigatória para quem queira governar em Democracia, na fronteira que divide os anseios da população com opções e compromissos menos universais dos governantes.

Quando a corda dos impostos está esticada até ao tutano e quando há essa estranha vontade de ir para além da Troika (versão actualizada da expressão ser mais papista do que o Papa), é preciso incentivar a imaginação para criar novos impostos sem que pareçam ser impostos.
 
O corte dos subsídios de Natal e de Férias para os trabalhadores da Função Pública poderá, apesar de polémico, ser visto como uma forma de poupança das despesas correntes do Estado, mas o seu alargamento aos restantes trabalhadores é claramente um novo imposto, também para as empresas.
 
A diminuição dos rendimentos dos trabalhadores da Função Pública é um duro golpe para todo o mercado interno, mas idêntico corte nos restantes trabalhadores, com esses subsídios de Natal e Férias, se os houver, a reverter para os cofres do Estado, será uma machadada ainda maior.
 
Estas preocupações e estas resistências compreendem-se melhor se nos lembrarmos que as sociedades só se desenvolvem se as populações puderem trabalhar, recebendo, a par do capital, a justa quota-parte do valor correspondente ao trabalho, valor que lhes permitirá aceder aos bens e serviços que a própria sociedade vai criando para bem estar das populações.
 
Sem quaisquer eufemismos, o contrário é uma vida de empobrecimento generalizado e de escravatura.
 
Luís Lima
Presidente da APEMIP
Luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 05 de Novembro de 2011 no Expresso

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