É com grande preocupação, como presidente da Confederação da Construção e do Imobiliário dos Países de Língua Oficial Portuguesa (CIMLOP), que olho para a situação que se vive em dois dos países que tiveram associações empresariais entre o núcleo fundador da CIMLOP, uma cúpula empresarial do imobiliário da lusofonia, constituída em Luanda em 2010. Angola e Brasil , por sinal dois países histórica e culturalmente muito ligados, estão a atravessar momentos difíceis, de características diferentes, mas tendo em comum um ambiente pouco propício à concretização de negócios que possam contribuir para que o imobiliário contribua para o crescimento e para o desenvolvimento desses mesmos países.
Em Angola por questões relacionadas com a quebra do preço do petróleo e pelas naturais dificuldades, nomeadamente no que ao tempo diz respeito, em deslocar o centro da Economia da indústria petrolífera para outras actividades menos dependentes da tabela dos barris de petróleo, no Brasil por um vasto conjunto de circunstâncias que enchem páginas e páginas de jornais em todo o Mundo, a verdade é que, por uma ou por outra razão, faltam, ou estão em vias de faltar, nos dois países, condições para que o importante mercado imobiliário possa assumir a sua vocação.
Lembro que no ano em que foi constituída a CIMLOP, no ano de 2010, assisti em Luanda a um fórum onde, a partir da experiência brasileira de construção de habitação social para aquisição própria, denominada “Minha Casa, Minha Vida”, demonstrava-se não apenas a compatibilidade do sector privado e dos Estados com mais vocação para intervenção social, como também o papel do imobiliário e do acesso à habitação própria como sinal exterior de consolidação de uma classe média, que tradicionalmente garante o equilíbrio dos Estados e o normal funcionamento dos mercados em Democracia.
É bom lembrar que a história do crescimento e da consolidação de muitas das grandes economias do Mundo passou pelo acesso crescente da população à propriedade da casa que habita, em regra em processos semelhantes aos que, nos últimos anos no Brasil, criaram programas específicos a projectar a construção, a curto prazo, de milhões de fogos para as classes média e média baixa. É por isso que é preocupante tudo o que possa interromper, ou romper, este desenvolvimento, como é o caso da situação brasileira, de tal maneira complexa que até o SECOVI de São Paulo, a mais importante associação empresarial da América Latina, veio a público apoiar “o processo de impeachment pelo legislativo federal”.
Olhando de fora, e sabendo como estes momentos de ruptura são difíceis e de consequências imprevisíveis, faço meus os votos que leio no comunicado do SECOVI quando evoca “a esperança daqueles que querem mudar o Brasil, retomar seu desenvolvimento e recuperar a dignidade”. Como também leio neste mesmo documento, “o impasse político (…) está matando os investimentos, a produção, os empregos e a confiança no futuro”. Mas é em momentos como estes – seja em Brasília seja em Luanda – que importa reforçar a serenidade, construir pontes em vez de destruir, apaziguar, naturalmente, sem prejuízo da transparência que se exige nos Estados de Direito.
Luís Lima
Presidente da CIMLOP
presidente@cimlop.com
Publicado no dia 21 de Março de 2016 no Jornal i