Um dos alertas mais preocupantes que o Dr. Ricardo Salgado, presidente do Banco Espírito Santo (BES), lançou nos últimos dias sobre o futuro da nossa Economia, foi o que sublinhou que “as empresas estão ainda com medo e a travar o investimento”, embora seja por esta via que o país deva crescer.

Com a prudência natural de quem ocupa um cargo como o de presidente de um banco, o Dr. Ricardo Salgado admitiu que podemos estar a chegar a um ponto de mudança no que respeita aos ciclos económicos, mas isso só acontecerá através do incremento do investimento. 

O banqueiro lembrou que a fiscalidade sobre as empresas está, em Portugal, 50% acima da média europeia o que faz com que não haja investidores interessados no nosso país, por mais declarações de vontade em contrário que façamos. Se juntarmos a isto a pouca apetência das empresas portuguesas em aumentar os respetivos investimentos entre nós, as cenas dos próximos capítulos não são motivadoras.

A expressão do Dr. Ricardo Salgado vinda a público em vários órgãos de comunicação social sobre esta matéria, relevante no quadro das declarações do primeiro-ministro sobre a falta de apoio dos bancos às empresas e às famílias, não podia ser mais preocupante: há pouca procura de crédito em Portugal, onde “os projetos de investimento contam-se pelos dedos de uma mão”.

O Presidente do BES reconheceu que os bancos, ao  gerirem os recursos dos seus clientes, têm, mais ainda neste contexto, de avaliar muito cuidadosamente a concessão de crédito, mas o toque mágico para fazer mudar o ciclo económico pertence aos políticos, nomeadamente aos políticos da Europa Central e do banco Central Europeu.

O presidente do BES lembrou que há mais liquidez em Portugal, que estamos  a caminhar para neutralizar o défice externo, que há mais poupança das famílias que podem poupar, que há um aumento de reservas enviadas para o país pelos emigrantes, que há dinheiro público proveniente das privatizações, que tem havido empréstimos com juros a baixar, que não há inflação exagerada, que há uma tendência para a baixa dos preços das matérias primas… Afinal o que é que falta para mudarmos de vida e de ciclo?

Apesar deste cenário há também, nomeadamente nos países mais frágeis do Sul da Europa, uma perigosa crise de crédito que atrasa a recuperação económica, crise que até já foi reconhecida por Angela Merkel quando, recentemente, nomeou como negativas as elevadas taxas de juro praticadas na economia real em países como Portugal.

Falando na Associação Alemã de Bancos, Angela Merkel apontou culpas às elevadas diferenças existentes nos mercados de crédito dos vários países europeus que aderiram à moeda única, diferenças que se refletem nos juros das dívidas soberanas e nos juros dos empréstimos comerciais. Os juros altos que são cobrados na economia real de países como Portugal criam o risco de uma crise de crédito que nem aos países mais fortes da Zona Euro interessa.

Esta crise, que se alimenta de múltiplas crises, tem de contar com o empenho e o investimento dos agentes económicos, mas estes só podem regressar num clima de confiança que compete aos políticos e à política criar.

Luís Lima
Presidente da CIIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 24 de abril de 2013 no Público

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