Fernão Lopes, jornalista ao serviço de D. João I, relatando as vésperas da crise de 1383/85 (há muito que em Portugal as crises duram pelo menos dois anos), diz, no capítulo XXII da Crónica do próprio D. João I, que foi Rui Pereira quem, virando-se para o Mestre de Aviz, futuro primeiro rei da segunda dinastia, disse: “Querees que vos diga, Senhor? Vos, dizem que vos hiis pera Imgraterra; mas a mim pareçe que boom Londres he este”. Palavras (aqui escritas na grafia da época) que terão sido secundadas pelas de um escudeiro fidalgo a quem chamavam Alvoro Vaasquez de Gooes.

O Mestre da Aviz estaria tentado a fugir da crise, emigrando para Inglaterra, por estas nossas terras serem, à época, pouco atractivas, como de novo parecem estar a ser, quer para os estrangeiros, que chegam em muito menor número, quer para os nacionais que voltam a partir, não para Londres como queria aquele que viria a ser o primeiro D. João de Portugal mas para outras cidades, como a de Luanda, que é o novo destino do sonho do El Dourado ou simplesmente do sonho de um emprego razoavelmente remunerado.

E, no entanto, também de novo poderá dizer-se a quem quer partir “que bom Londres he este”, é Portugal, é, por exemplo, a mediação imobiliária e não apenas como recurso para quem, aparentemente com menores habilitações, tentará a sorte nas vendas, como se mediar fosse apenas vender e como se vender fosse uma actividade menor. Em Itália, por exemplo, a mediação imobiliária recruta jovens arquitectos para as tais vendas e muitos daqueles que conseguem entrar no segredo da arte da mediação dificilmente voltam à arquitectura.

Não posso dizer (e ainda bem) que a mediação imobiliária seja, de novo, o El Dourado dos tempos em que nem os profissionais conseguiam vender um imóvel porque a procura se antecipava a comprar tudo o que se construía, antes de finalizada a construção, e fazia de qualquer molho de chaves pendurado, em serviço, num contentor de vendas o vendedor do mês. Já só há esses El Dourados em séries televisivas que alimentam a nostalgia da nossa memória, como é o caso do conta-me como foi no tempo do “pois, pois Jota Pimenta, Lda”, célebre anúncio de um dos primeiros empreendimentos imobiliários a preços módicos. Mas hoje o mercado imobiliário português tem espaço para crescer e oferece, a quem a ele se dedique seriamente, condições suficientemente atractivas para que possamos dizer “bom Londres é o imobiliário”.

É com este optimismo realista que nos despedimos, em vésperas, neste espaço informativo, de um Agosto de defeso imobiliário, marcando reencontro para Setembro, o mês do Salão Imobiliário de Lisboa, onde a APEMIP estará dando continuidade à nossa própria rentrée que, este ano, terá lugar no Algarve a 21 de Agosto. Boas férias.

Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP

Publicado dia 29 de Julho de 2009 no Público Imobiliário

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