Pior do que não ter dinheiro é não ter crédito. Muitos portugueses, na linguagem do dia a dia, comentam por hábito, quando apanhados sem liquidez, pelo esquecimento do porta-moedas em casa, que não têm dinheiro mas têm crédito.

Quem assim fala, consegue, em regra, o crédito que necessita e que restituirá, pouco tempo depois, quando voltar a ter acesso ao porta moedas. Não ganha esse  crédito pela força da palavra dita mas pela confiança que foi consolidando ao longo da vida.
Assim se vive, mais ou menos tranquilamente, salvo quando, mesmo perante pessoas que são claramente de confiança, não há liquidez disponível para dar crédito, por poucas horas que sejam, criando um inesperado e injusto desconforto em cadeia. 
 
Multiplicando este impensável cenário não sei por quantos mil projectamos a impotência que se abate sobre as empresas que podem e querem crescer, por exemplo no mercado externo, mas não conseguem aceder ao financiamento mínimo necessário a esse crescimento.
 
Numa situação como esta, que é a situação que estamos a viver, mergulhar numa profunda recessão, com todos os efeitos colaterais nefastos que qualquer recessão sempre provoca, é um cenário muito provável para qual todas as vozes de alerta são poucas.
 
O dinheiro está caro, é quase um produto de luxo, mas a falta de dinheiro pode custar muito mais. Pode custar o próprio relançamento da nossa Economia, pode comprometer a nossa urgente necessidade de recuperação. Esta mensagem tem de ser reencaminhada vezes sem conta e para muitos destinatários.
 
Talvez a Troika tenha ido longe demais nas exigências à banca. Esta afirmação só é dubitativa por uma questão de elegância e diplomacia. A Troika foi mesmo longe demais e nós não soubemos bater o pé e dizer não a um tratamento que nos está a deixar tão debilitados que até podemos pensar que vamos morrer da cura.
 
Que pena não ser permitido ter saudades de Alves dos Reis, que nos anos 20 do século passado conseguiu encomendar, como se fosse Governo, na tipografia inglesa que habitualmente fornecia o Estado português,  uma emissão de moeda destinada ao desenvolvimento de Angola, em notas de 500 escudos com a efígie de Vasco da Gama. Falsas por terem sido pedidas por quem não tinham legitimidade para o fazer.
 
Luís Lima
Presidente da APEMIP
luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 18 de Outubro de 2011 no Jornal de Notícias e no Diário de Notícias

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