O património imobiliário português está a ser vítima de uma contaminação indesejada e indesejável, qual pandemia que ameaça indiscriminadamente grande parte da riqueza construída e salvaguardada pela maioria das famílias portuguesas.

A desvalorização forçada do preço das casas está a ser potenciada por soluções apressadas no que toca ao problema da acumulação de imóveis provenientes de dações por incumprimento de contratos de financiamento e à penhora de outros tantos por parte das autoridades fiscais.

Muitas famílias portuguesas outrora assediadas de forma quase irresistível para contraírem empréstimos, tendo em vista a aquisição de casa própria, viram as suas perspectivas de vida alterar-se a níveis que nunca imaginaram, pela quebra de rendimentos mesmo quando continuaram a trabalhar, e algumas delas faliram.

Com a falência, a solução para muitas dessas famílias seria vender o património imobiliário mas, neste entretanto, o mercado começou a desaparecer, enquanto mercado equilibrado, e esta saída gorou-se na generalidade dos proprietários aflitos que deixaram de poder vender a preços justos.

Paralelamente a tudo isto, o Estado iniciou, no pior momento,  uma reavaliação do património imobiliário para ter efeitos em sede de Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI), reavaliação que tende para que o IMI suba a valores insuportáveis, ou seja, pôs mais achas na fogueira que está a desesperar a classe média.

Por razões que estão muito relacionadas com o desfasamento temporal que existe entre, o momento da decisão de promover um produto imobiliário e o momento em que esse produto está disponível para comercialização, alguns imóveis, especialmente em periferias de grandes cidades deixaram de ter a procura que era esperada no momento em que foi decidido promove-los.

Este fenómeno, justificado pelo abrupto fecho da torneira do financiamento, outrora tão generosa, condenou alguns empreendimentos de periferias, cujo destino possível, antes de se equacionar uma admissível demolição, será, na melhor das hipóteses o mercado do arrendamento urbano e nunca um preço de saldo mais próprio de roupas em fim-de-estação.

Que estes produtos imobiliários estejam a sofrer a erosão de alguma quebra de preços ainda poderá entender-se, mas deixar que esta pandemia atinja património imobiliário que deveria estar a valorizar-se, dia após dia, por força da respectiva qualidade construtiva e da excelência da localização não é, nem por sombras, desejável.

Essa contaminação se não for travada, acabará por atingir a própria dinâmica de recuperação económica do país de forma irreversível.

Luís Lima

presidente da APEMIP

luis.lima@apemip.pt 

Publicado no dia 11 de maio de 2012 no Sol

Translate »