A ilustração de Ingram Pinn que acompanha um dos mais recentes artigos do jornalista Gideon Rachman no Financial Times (também publicado, na tradução portuguesa, pelo Diário Económico), mostra o sonho de ter casa própria a desfazer-se na projeção de quem ainda sonharia com o que o Ocidente pudesse oferecer a quem o escolhesse como local para viver.

O título do artigo de Gideon Rachman “The west is losing faith in its own future” (O Ocidente perdeu a fé no seu futuro) refere a crescente desilusão de milhares e milhares de pessoas nas possibilidades que o Ocidente poderia e deveria oferecer a quem nele vivesse, ou seja, numa síntese otimista “uma vida confortável”.

Seria e será em nome dessa esperança numa vida melhor e confortável que muitos arriscavam e arriscam a entrar, mesmo ilegalmente, na Europa, atravessando esse lago imenso que nos separa do Norte de África e que dá pelo nome de Mediterrâneo, ou nos Estados Unidos da América, nomeadamente pela murada fronteira com o México, fronteira que marca o maior fosso económico entre dois países, com uma diferença brutal de rendimentos entre os que vivem em lados opostos.

O pior desta opinião de Gideon Rachman é que ela está fundamentada num inquérito recentemente realizado em 39 países cuja pergunta principal visava saber se os inquiridos consideravam ou não que no país onde vivem os filhos irão ter uma vida melhor do que os pais. Na Europa e nos Estados Unidos, a maioria disse claramente que não, numa desilusão mais acentuada no Velho Continente do que no Novo Mundo.

O Novo Mundo parece que já não mora a Norte e no Ocidente, mas sim na China, na Índia ou na Nigéria onde a maioria dos inquiridos  disse que sim, disse que acreditava que os filhos dos chineses, dos indianos e dos nigerianos irão ter uma vida melhor do que aquela que os pais têm ou tiveram.

E como diz Gideon Rachman, no centro da questão está, no Ocidente e no Oriente, a Norte e a Sul, a possibilidade de uma vida confortável, uma vida que retire as pessoas do patamar da pobreza e não o contrário. Esta é a grande desilusão e é aqui que está o cerne da questão.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 23 de Dezembro de 2013 no Diário Económico

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