Apesar de ser um dos países mais protegidos da Alemanha, em parte pelo crescimento dos últimos anos ter sido potenciado por investimentos da banca alemã, a Espanha, ao contrário do que aconteceu em Portugal, viu crescer uma bolha imobiliária que está rebentar e a causar alguns constrangimentos na banca espanhola cujo valor dos imóveis recebidos em dação ultrapassa já os 33 mil milhões de euros, tendo duplicado no último ano.

Este fenómeno, que alguns, tentando transformá-lo numa espécie de doença contagiosa, querem a todo o custo exportar para Portugal, centra-se na incapacidade que muitos particulares  sentem em satisfazer obrigações contraídas junto da banca e na entrega de empreendimentos inteiros às instituições financeiras, por parte de promotores imobiliários que entretanto faliram.

Este cenário estava já desenhado quando os alemães pressionavam Portugal e a Irlanda a recorrerem às ajudas externas da Europa e do Fundo Monetário Internacional (FMI), na esperança de que estes resgates salvassem a Espanha de idêntico destino, remédio que, como se sabe, não evitou que Madrid tivesse de reconhecer a evidência da situação debilitada em que se encontrava e encontra.

E o estado destes estados pouco difere, quer o problema resida no défice da dívida soberana, como é o caso de Portugal, quer na liquidez da banca, como era o caso da Irlanda e Madrid, quer que seja o caso de Espanha. Em qualquer dos casos, o que está em risco são os interesses financeiros, de difícil resolução,  muitos deles alemães. D. Ângela Merkel pode correr o risco de ter de se tornar numa comercial imobiliária, o que aliás só a dignificava.

Esperemos que a chanceler alemã, nascida e criada na antiga Alemanha de Leste, não se esqueça dos benefícios das uniões políticas, na memória do efetivo fortalecimento que o país que dirige conheceu, em resultado da reunificação alemã, na sequência da queda do Muro de Berlim, e graças ao grande esforço de coesão solidária entre as duas Alemanhas – um bom  exemplo para a própria União Europeia nesta hora de aperto para alguns Estados membros.

Tudo isto também serve para provar que as bolhas imobiliárias, como a que claramente atingiu e atinge a Espanha, não são, necessariamente, uma espécie de doença infantil do desenvolvimento de inevitável e quase desejável contágio, quando estamos a crescer, como o sarampo. A Espanha é um bom exemplo de que nem sempre tais doenças garantem imunidades quando contraídas pela primeira vez.

Seria, aliás, muito bom que aprendêssemos com os erros dos outros.

Luís Lima
Presidente da APEMIP
luis.lima@apemip.pt

Publicado dia 24 de Agosto de 2012 no Sol

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