A firmeza na defesa do património construído, uma das riquezas que as famílias portuguesas acumularam com poupanças que foram, na maioria dos casos, fruto de muitos sacrifícios, essa firmeza deve ser um ponto de honra neste contexto difícil para a Economia de Portugal e para todos nós.
O empenho que, nesta matéria, começa a ser assumido pelo sector financeiro quando reconhece que essa riqueza deve ser preservada, recusando entrar em desvalorizações artificiais do património imobiliário que volta para o regaço dos bancos e, principalmente, criando condições para que haja menos dações de imóveis por incumprimento de dívidas, está já a ter efeitos positivos.
No segundo trimestre deste ano foram entregues 1.000 imóveis para resgate de dívidas, menos 1.300 imóveis que nos primeiros três meses, o que perfaz um total semestral de 3.300 imóveis, correspondente a um aumento de 8,9% em relação ao período homólogo anterior. Ainda são números elevados mas é visível uma inversão desta tendência que abre alguma esperança a um sector que não aguentaria a desvalorização forçada que alguns, oportunisticamente, desejam.
Como tive a oportunidade de dizer comentado estes números, uma espiral de descrédito do património imobiliário fomentaria a perda generalizada de património a favor das entidades bancárias e condenaria o sector e o País a um trágico desfecho económico. Daí que a ideia da dação de imóveis deva ser o último recurso e deva ser evitada também com o esforço negocial das próprias entidades bancárias.
Os números que a Associação de Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária (APEMIP), a que presido, pode recentemente divulgar sobre esta realidade provam que o sector financeiro está a encarar este problema com um outro olhar e com abertura para renegociações com os clientes em maiores dificuldades, numa solução que interessa a todos e que deve ser salientada como muito positiva.
A entrega de imóveis é um fenómeno que se compreende pelo conturbado período financeiro que a sociedade portuguesa hoje atravessa, com parte da população a sofrer insegurança, descontentamento e precariedades contratuais, mas tudo o que possa ser feito para evitar este fenómeno que nos empobrece a todos é muito importante para a nossa própria recuperação económica.
Luís Lima
Presidente da APEMIP
luis.lima@apemip.pt
Publicado no dia 21 de julho de 2012 no Jornal de Notícias