Quem é ela? Escrita com a urgência e o volume sonoro que as maiúsculas lhe conferem, ELA pode ser a peça de acto único que Jean Genet escreveu em 1955 e que o Teatro da Cornucópia tem actualmente em cena. Também poderá ser as iniciais de uma doença grave, esclerose lateral amiotrófica.
Na peça de Genet, ELA é Sua Santidade o Papa, figura principal de um enredo que narra a história de uma fotografia oficial do Papa. Um retrato do Papa capaz de captar, independentemente do retratado, a imagem que o Chefe da Igreja Católica deve transmitir.
Uma espécie de versão dramatúrgica da história do retrato do Papa Inocêncio X, por Velázquez, uma das obras primas do pintor que hoje pertence ao espólio da Galeria Doria Pamphili de Roma, galeria que tem o nome da família do próprio Papa, Giovanni Battista Pamphili, representante de Deus na terra de 1644 a 1655.
Mas esta ELA, a recriada, por Genet, Sua Santidade, ainda não é a que foi salva e que agora deveria salvar. Essa outra ELA é a banca, a banca que deixou embalar-se pela destravada generosidade que antecedeu a crise do subprime e que viria a ter de ser salva, inclusivamente com injecções de dinheiros públicos.
Também é uma espécie de sua santidade, mas sem maiúsculas, uma santa banca que agora aperta a torneira do crédito, em especial às pequenas e médias empresas, tentando redimir-se dos pecados antigos, cortando a direito onde antes eram tudo facilidades, numa clara amputação do objecto da própria banca – bombear sangue no sistema.
Esta é parte da história que falta no recente boletim estatístico do Banco de Portugal onde se fala num crescimento do número de empresas cujo crédito obtido junto da banca está a ser classificado de malparado. Valha o reconhecimento de que o crédito à habitação é o que regista o grau de incumprimento mais reduzido.
Nem por isso Ela, a santa banca, parece disposta a comover-se e a reinventar-se na oferta de novos produtos capazes de dinamizar um sector que sempre contribuiu e pode continuar a contribuir para o crescimento da nossa Economia, o que contempla, por exemplo, a recuperação de muito emprego perdido.
Luís Lima
Presidente da APEMIP
luis.lima@apemip.pt
Publicado no dia 2 de Julho de 2011 no Jornal de Notícias