A expressão “mom-and-pop”, em inglês dos Estados Unidos da América, significa, em tradução livre (a única que poderá funcionar de forma minimamente inteligível), mamã e papá, mas é muito mais do que isto e traduz, grosso modo, negócios familiares quando estes são pequenas ou micro empresas. Portugal está cheio de “mom-and-pop” e isto estará na base dos crónicos problemas com que se debate a nossa Economia.
Quem o diz é Matthew O’Brien, um dos diretores da revista norte-americana “The Atlantic”, num artigo sobre os mistérios das nossas desgraças económicas, desgraças que virão de longe mas que, na presente crise, surpreendem quem se debruça sobre o nosso país pois reconhece-se que embora sem qualquer bolha imobiliária, Portugal cresceu na última década menos que os EUA durante a Grande Depressão (anos 30 do século passado) e o Japão durante a chamada década japonesa perdida, ocorrida nos anos 80 do século passado.
Este desfasamento português tem de ter em conta o atraso que acumulamos com a tardia opção democrática, trinta anos mais tarde do que a maioria da Europa Ocidental, mas também a tentação, também tão portuguesa, de resolvermos as nossas questões por vias remediadas que apenas disfarçam os problemas – quantas pequenas lojas para venda de fruta e legumes e quantos pequenos espaços para venda de tabaco e jornais não nasceram para suprir o desemprego de quem os criou, sobrevivendo apenas pelo facto dos respetivos proprietários não contabilizarem o trabalho que eles próprios aplicam nesses projetos.
Tudo isto, o medo de dar o salto para uma escala potencialmente mais rentável e, na opinião do articulista, o desencanto que a suposta corrupção instalada na grande indústria e no grande comércio gera nesses eternos candidatos a empresários, com todos os ésses e érres da função, empurrou a significativa percentagem de micro e pequenas empresas, no universo do nosso tecido empresarial, para o conforto remediado da mediania dos “mom-and-pop” durante anos materializada na triste expressão “pouquinho mas certinho”.
O problema, reconhece o articulista, é que agora, no contexto da atual crise, e das soluções que a Europa escolheu, apesar dos duvidosos resultados destas mesmas soluções, tais empresas já não sobrevivem, mesmo não contabilizando o trabalho dos seus proprietários – não só enfrentam sérias dificuldades no acesso ao crédito como, mesmo que estas dificuldades sejam superadas, estão a ver a austeridade a esmagar os seus clientes.
Matthew O’Brien é mais uma voz insuspeita a dizer que a Europa está a exagerar na austeridade como a receita para sair da crise. Matthew O’Brien, que reconhece que Portugal tem de resolver os seus problemas estruturais, é claro como água quando diz que a Europa “deve parar de insistir no castigo da austeridade como o caminho para a prosperidade”.
A menos que o objetivo final de todo este novo desenho da Europa em curso seja o de fazer diminuir a chamada Zona Euro, conclui Matthew O’Brien. Elementar, meu caro Matthew, comento eu.
Luís Lima
Presidente da APEMIP e da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com
Publicado no dia 17 de Junho de 2013 no Diário Económico