Os preços das casas não estão a descer em Portugal. Os preços das casas, no mercado imobiliário português, têm tendência para subir. Não muito, mas têm tendência para subir. É isso que faz com que o nosso mercado seja actrativo para quem quer investir no sector, sem tentações especulativas.
Mas, às vezes, por um fenómeno muito português de arreigamento à propriedade imobiliária, pede-se muito por um imóvel usado, como se ele não tivesse sofrido o desgaste do tempo e fosse imune à evolução dos materiais de construção, no sentido da maior fiabilidade, e até à própria evolução da moda, nos seus múltiplos aspectos aplicáveis a uma casa.
Só nestas circunstâncias – com relutância mas com realismo – poderá assistir-se a algo vagamente aparentado com uma quebra dos preços no imobiliário. Mas, este fenómeno, típico no mercado de usados, é apenas um ajustamento dos preços, em regra elevados, que os proprietários começam por pedir quando querem vender uma casa de que gostam.
Objectivamente, pela evolução do estado da arte de construir e pelo aparecimento de materiais adequados às necessidades das modernas construções, as casas novas valem mais do que as usadas. Direi, empiricamente, que, em média, uma casa usada vale menos 30% do que uma casa nova de idêntica tipologia e localização.
Mesmo que, seja a casa onde vivemos e fomos felizes, um espaço que cedemos com relutância e pelo qual todo o dinheiro que nos oferecem parece, escandalosamente pouco. Parece mas não é, como ainda há dias, conferia, num almoço de trabalho, com um amigo que, pelos ossos do ofício, testemunha muitas vezes estas “especulações inocentes e ocultas”.
Uma casa não é como um carro que mal sai do stand desvaloriza no mínimo 30% do valor inicial, mas na hora de vender a casa que usamos durante alguns anos, é preciso ter em linha de conta, pelo menos o valor a que corresponde os anos que nela vivemos, antes de lhe fixarmos um preço em regra especulativo, mesmo que involuntariamente especulativo.
A lógica desta “especulação oculta” centra-se numa fórmula que, invariavelmente acrescenta ao valor pago na hora da aquisição do imóvel, uma percentagem de valorização constante, que tem em conta a inflação ocorrida durante os anos de ocupação, mas raramente ou nunca, considera a desvalorização causada pela vetustez do imóvel.
Esta atitude, pouco realista, também é um factor negativo para um equilibrado e bom funcionamento do mercado imobiliário.
Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP
Publicado dia 13 de Janeiro de 2010 no Público Imobiliário