As cerca de 20 mil casas por estrear e por vender que foram parar à banca por dação de promotores e construtores que não conseguiam satisfazer os encargos contraídos face ao abrandamento da procura, esse volume de construções não corresponde a um aumento do stock de excedentes. Na verdade, estes imóveis já existiam e apenas mudaram de mãos.
O abrandamento da procura deve-se, em grande parte, ao aumento das dificuldades de acesso ao crédito. Gente que quer solucionar problemas habitacionais adquirindo casa própria continua a existir mas agora os critérios de acesso ao crédito são mais apertados e parte desta procura deixou de poder optar pela solução mais desejada.
Parte dessas casas novas por vender foram desenhadas, promovidas e construídas num tempo de maior procura, por força das melhores condições de financiamento que as instituições financeiras, durante muito tempo, ofereciam. A alteração deste quadro de financiamento é também responsável pelas dações de imóveis à banca.
Não são só, como tenho alertado, os imóveis adquiridos a crédito pelas famílias portuguesas cujos rendimentos decresceram ou que foram atingidas pelo flagelo do desemprego quando as respetivas taxas de esforço para satisfazer encargos financeiros estavam no limite do suportável ou mesmo já para lá dessa linha perigosa.
A abertura da banca à negociação dos créditos contraídos por famílias em dificuldade tarda a estender-se, com idêntica flexibilidade, a promotores e a construtores. O resultado é essa transferência de propriedade de muitos empreendimentos, dos promotores e dos construtores aflitos para as instituições financeiras.
Na verdade, e como se esperava, o volume de imóveis novos por vender está a diminuir. A construção nova está a diminuir a um ritmo superior ao da reabilitação que também gera oferta nova, embora noutro contexto. Esta tendência do mercado imobiliário português está para durar, o que também faz com que a aquisição de imóveis novos possa ser uma oportunidade para quem não precise de recorrer ao crédito.
Mas o importante, neste cenário, para as famílias, para os promotores, para os construtores e para a banca é que o mercado possa funcionar e haja condições para que a procura existente se aproxime da oferta existente.
Luís Carvalho Lima
Presidente da APEMIP e da CIMLOP –
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
luislima@apemip.pt
Publicado no dia 5 de abril de 2013 no Diário de Notícias