O mercado imobiliário português não se enquadra nos diagnósticos que os grandes especialistas mundiais fazem ao sector, e, apresenta-se, quase sempre, com uma imagem muito diferente, numa diferença que também quase sempre se destaca pela positiva.
Quase em simultâneo, e com ecos nas páginas cor de salmão, especializadas, podemos ler num certo determinado estudo que, a procura de escritórios na zona de Lisboa, atingiu em 2009 valores semelhantes aos de 2003, para logo a seguir lermos, noutro estudo, que em 2010, no mesmo segmento e região, foram investidos 704 milhões de euros, num aumento de 23% face ao ano anterior.
Também a circunstância, mais do que normal, de estarmos a assistir a menos inaugurações de centros comerciais do que as verificadas noutros anos, não significa, necessariamente, uma queda do sector do retalho, mas apenas, como felizmente estudos independentes também referem, uma manifestação de maturidade do sector a nível nacional.
É reconhecida, apesar de pouco divulgado, pelo menos com fanfarras idênticas às que acompanham as notícias dos insucessos, é reconhecida a boa resistência que os Fundos de Investimentos Imobiliário (FII) demonstraram no contexto da crise financeira que deflagrou em 2008, o que fez deles, nomeadamente em Portugal, refúgio para alguns investimentos, nacionais e estrangeiros, seguros.
O mercado imobiliário português é, de facto, diferente dos demais mercados imobiliários e não costuma acompanhar os ciclos que caracterizam esta realidade noutros países, num desfasamento que se explica pelo próprio desenvolvimento económico de Portugal, no contexto europeu, um desenvolvimento que sempre esteve em desfasado dos ritmos que marcavam a Europa, que se reconstruiu a seguir à guerra.
Prova desta realidade é o facto de estarmos, agora, a equacionar, em força, os projectos de reabilitação dos grandes centros urbanos, ciclo que a Europa já iniciou há muito, e que, entre nós, regista um atraso compreensível que tem a vantagem de nos poder proporcionar o benefício de podermos evitar os erros, que hoje identificamos nas experiências dos outros.
Também por esta via – da reabilitação urbana – o imobiliário português regressa a negócios de milhões, mesmo que a reabilitação seja low cost, como alguns ensaiam, expressão “negócio de milhões” que fez o título de um dos artigos que recentemente li sobre esta matéria, título raro e feliz quando a regra, infeliz e injustamente, tem sido a de desvalorizar artificialmente este sector, como se ele fosse um sector de tostões e não de milhões, como é, sem qualquer sombra de pecado… económico.
Luís Lima
Presidente da APEMIP
Publicado dia 18 de Março de 2011 no Sol