Por coincidência, passei em Inglaterra o primeiro dia depois do referendo para decidir da saída ou da permanência do Reino Unido na União Europeia, referendo que foi ganho pelos que queriam a saída, como aliás o Mundo inteiro já sabe e comenta. In loco, assisti às primeiras reações sobre o resultado do Brexit, que espelharam as dúvidas face aos próximos passos desta decisão histórica, que acabei por ter oportunidade de debater com algumas personalidades que se encontravam lá no mesmo período.
A votação (quase dezassete milhões e meio contra dezasseis milhões e pouco) criou algumas apreensões dentro e fora do Reino Unido, com os mercados que exportam para Grã Bretanha a temer a desvalorização da libra e os britânicos a temerem a desagregação do próprio Reino Unido.
Sabe-se que o País de Gales e a Escócia votaram maioritariamente pela permanência na União Europeia o que, face aos resultados alcançados, dá força à realização de referendos, pelo menos na Escócia, para decidir da permanência no Reino Unido. Naqueles ilhas nada será como dantes depois do referendo da véspera de S. João.
Para o sector imobiliário português, que capta muito investimento proveniente de cidadãos britânicos, o impacto do Brexit (o vocábulo que traduz a saída) é, a meu ver, menor que que muitos temem – quem quer e pode investir fora da Grã-Bretanha continuará a fazê-lo, se necessário agora ao abrigo dos Vistos Gold.
Volto a reconhecer que a potencial desvalorização da libra face ao euro não será tão significativa que o encarecimento dos nossos ativos possa ser um impedimento à sua compra. Desde logo pelo facto de Portugal continuar a ser um dos países da Europa cujo preço por metro quadrado é mais barato.
O Brexit não fará levantar muros em Portugal que dificultem a entrada de cidadãos britânicos no nosso país, incluindo aqueles que possam estar interessados em investir no nosso imobiliário – a procura do imobiliário português por parte de ingleses e de outros cidadãos britânicos já existia antes de Portugal entrar para a CEE hoje União Europeia.
E se é compreensível que haja quem possa temer que o contrário venha a acontecer, ou seja, que no Reino Unido os europeus, incluindo os muitos portugueses que aí residem, trabalham ou estudam, venham a ser hostilizados por alguns sectores, é expectável que isso só tenha algum impacto, naturalmente sempre negativo, nestes primeiros tempos, voltando gradualmente ao normal.
Regressando ao enfoque que mais legitimamente me interessa e deixando as análises sobre políticas europeias para outros, devo lembrar que em momentos de alguma crise e incerteza, como as que poderão acentuar-se no Reino Unido, a tendência para que os investidores fujam dos cenários problemáticos para latitudes mais seguras é uma constante.
Não direi, nem seria justo que o fizesse, que o Brexit virá a beneficiar o movimento de captação de investimento estrangeiro pelo mercado imobiliário português, mas estou muito seguro da continuação desse interesse por parte dos investidores britânicos, mesmo que haja algum natural compasso de prudência nestes primeiros tempos. Pude aliás confirmar esta ideia, em Londres, junto de profissionais britânicos do sector, nesta minha mais recente visita à capital de Inglaterra e do Reino Unido.
Luís Lima
Presidente da CIMLOP
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Publicado no dia 29 de Junho de 2016 no Público