Infelizmente é um filme muito mau e com maus actores já muitas vezes visto. Muitos de nós, mesmo quando já viram tudo, incluindo o desfecho, sofrem do mau hábito de ficar até ao fim a olhar para as películas de duvidosa qualidade artística que alguns canais de televisão passam vezes sem conta, para encher programação. É inexplicável.
Desta vez o filme é uma eterna reprise vezes sem conta levada à cena desde que esta cena foi descoberta na nossa democracia – aprova-se uma legislação justa e desejada mas “esquece-se” -de forma muito conveniente e oportuna – de a regulamentar, o que na prática é matar dois coelhos com o mesmo tiro.
Podemos, graças à aprovação da lei, lançar os foguetes e ir apanhar as canas, e, ao mesmo tempo, retardamos a entrada em vigor de tais leis por falta da respectiva regulamentação – isto pode ocorrer por má qualidade de quem legisla ou por incompetência. É um já visto (aquele dejá vu dos franceses) que só visto.
Ironicamente, este filme voltou aos nossos écrans com a nova e aplaudida legislação para os vistos gold, nome popular das autorizações de residência para investidores (ARI) – aprovada e bem propagandeada está agora parada por falta da tal regulamentação, o que é, no mínimo, muito, mas mesmo muito, mal visto.
Para piorar esta situação, está a ser divulgado – e tudo leva a crer que seja verdade – que afinal há centenas de pedidos de vistos gold encalhados nesta burocracia. Centenas, num contraste com aquela escassez de vistos que fez notícias recentemente. Pudera, com estas práticas e esta vocação para matarmos as galinhas dos ovos de ouro.
Assim não, assim vamo-nos ver bem gregos para manter o imobiliário na primeira linha da recuperação económica que pretendemos para o país. Até parece que é de propósito, assim como que uma espécie de greve surda contra o sucesso. Não faltará, nos nossos mercados concorrenciais, quem aplauda esta negligência.
Por muita graça (graças aos trocadilhos, bem vistos ou mal vistos, utilizados) que possa ter este alerta para estas vicissitudes, a verdade nua e crua é que a situação não tem graça alguma, muito menos neste contexto difícil que atravessamos.
Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com
Publicado no dia 20 de Julho de 2015 no Diário Económico