A linha imaginária a que damos o nome de paralelo (por ser paralela à linha do Equador), em que, geograficamente nos encontramos é o paralelo 38 Norte, o famoso e sensível paralelo que divide a península da Coreia em duas Coreias, e onde também está Lisboa, na periferia ocidental da União Europeia, e Atenas na periferia oriental da mesma União.
Deveria haver nesta coincidência de Lisboa e Atenas estarem no mesmo paralelo, embora Lisboa fique ligeiramente mais a Norte e mais próximo do paralelo 39, uma espécie de solidariedade capaz de superar todos os males entendidos que podem surgir quando um português e um alemão falam em inglês de assuntos muito sensíveis e reservados.
As inconfidências do ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schaeuble, ao ministro português das Finanças, Vítor Gaspar, captadas em Bruxelas, naquele inglês dos políticos cujas línguas mãe não é a de Shakespeare, não ajudaram nada a consolidar esse desejável novo paradigma diplomático para a Europa, segundo o qual nenhum pais europeu deveria ser estrangeiro.
Por força das modernas tecnologias, o que o ministro Gaspar disse ao ministro Schaeuble e vice-versa, deixou de ser susceptível de interpretações muito diversas, pois o mundo que se alimenta das informações dos média ouviu a gravação desses segundos que abalaram aqueles princípios que deveriam fazer parte da construção de uma verdadeira União.
Independentemente da (in)oportunidade assumida pelo operador de imagem da estação de televisão que captou a conversa (entretanto já sancionado pela Comissão Europeia), a simples ideia, pelo menos implícita, de que os Gregos não estarão a cumprir, comparativamente aos portugueses, é perigosa para a Europa e muito certamente injusta para os gregos.
A leviandade com que muita gente insinua que os gregos são menos trabalhadores e não estarão preocupados com a situação que vivem, é propícia a divisões internacionalmente inaceitáveis entre povos, divisões que, no caso vertente, contribuem mais para a desagregação da União Europeia do que para a consolidação deste espaço único.
Confesso que estou, como empresário, muito mais próximo de acreditar na jornalista grega Evangelia Papaioannou, que recentemente foi citada na Imprensa portuguesa, nomeadamente quando ela diz que muitas das metas exigidas pelo troika estão contaminadas por uma austeridade cega que impede um crescimento mínimo necessário.
Esta analista não nega que a consolidação orçamental terá de ser alcançada, mas lembra que tal objectivo não pode ser o único, pois, numa situação dessas, correr-se o risco de recessão e em recessão, ou seja com o PIB a diminuir, não há qualquer hipóteses de reduzir qualquer défice. Lisboa e Atenas vivem no mesmo paralelo e sob a influência de troikas idênticas.
E nem gregos nem portugueses querem deixar cair a moeda única, pelo menos enquanto ela significar o ritmo de desenvolvimento que há dez anos, quando cá chegou o euro, prometia.
Luís Lima
Presidente da APEMIP
luis.lima@apemip.pt
Publicado no dia 22 de fevereiro de 2012 no Público