Não importa se é Mario Draghi quem o diz nem como o diz. Ou se é Christine Lagarde, a directora do Fundo Monetário Internacional (FMI), a dizê-lo. Tampouco a situação se altera se o penúltimo ministro da Economia de França, Arnaud Montebourg, faz cair o Governo a que pertencia e não é reconduzido no seguinte, formado pelo mesmo primeiro ministro, por dizer o que disse, ou seja, o mesmo que que disseram Draghi e Lagarde, embora com outras palavras – a Europa tem de crescer mais e isso não acontece em cenários de austeridade excessiva como o que temos vivido.

Nem Santiago Maior, um dos apóstolos de Cristo, poderá e quererá fazer o milagre de transformar a austeridade em crescimento mesmo que deseje ser muito simpático para com Angela Merkel que há poucos dias fez, na companhia de Mariano Rajoy, o primeiro ministro do Governo de Madrid, seis quilómetros a pé, num dos caminhos de Santiago,  mais precisamente entre Pedrouzo e Lavacolla. A conversa dos dois peregrinos terá sido muito mais terrena do que etérea e até é provável que a entrevista de Christine Lagarde a defender maior empenho da Alemanha no retoma da Europa tenha vindo a lume.

Merkel e Rajoy foram a Santiago de Compostela incensar a austeridade, apresentando-a como a heroína responsável pelo crescimento que se verifica em Espanha e em Portugal, como referiu a chancelar alemã, numa operação perfumada que ignorou o facto do crescimento que se verifica na Península Ibérica ser insuficiente para as necessidades dos dois países, nomeadamente no que toca à criação de emprego quando os números do desemprego são elevadíssimos, mesmo considerando algumas variações no sentido da descida. A verdade é que nenhum botafumeiro, nem mesmo o mundialmente célebre da Catedral de Santiago de Compostela, consegue perfumar a austeridade.

Diz-se – leio na Imprensa que acompanhou esta peregrinação a Santiago – que Angela Merkel está habituada e gosta de fazer longas caminhadas pelo que o percurso que cumpriu ao lado de Mariano Rajoy terá sido mais penoso para o primeiro ministro do Governo de Madrid do que para a chanceler alemã. Mas na verdade, seis quilómetros é pouco para os caminheiros de Santiago que fazem, em média, 30 quilómetros por dia durante vários dias. Esta é aliás a medida do sacrifício, igual ao da austeridade continuada – algo muito difícil de suportar quando se impõe numa fasquia elevada durante muito tempo.

Ao manifestar-se disponível para levar o Banco Central Europeu (BCE) a lançar para a mesa mais estímulos de natureza monetária contra a estagnação económica europeia, Draghi está objetivamente a reclamar aos governos da Europa esforços em consonância, mesmo que eles passem por políticas orçamentais menos focadas no equilíbrio das contas, independentemente do que essa pressa possa causar à Economia e, principalmente, às pessoas em nome das quais se adoptam as políticas económicas.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 01 de setembro de 2014 no Jornal i

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