Quando tocou a rebate, na hora do país recorrer a instâncias internacionais para resgatar as dívidas que se acumulavam, três dos principais partidos representados na Assembleia da República, que juntos formam uma ampla maioria, conseguiram estar de acordo e assinaram, perante estrangeiros, o mesmo compromisso, conhecido pelo nome de memorando da Troika.
Dias antes, nos últimos dias do anterior Governo, o executivo aprovou uma série de medidas para a dinamização do mercado de arrendamento urbano e do mercado da reabilitação urbana, todas elas consensuais na sociedade portuguesa e na maioria, talvez até na totalidade, dos partidos com representação parlamentar.
Esses últimos diplomas assumiram-se como um sinal de esperança para o sector da Construção e do Imobiliário, por terem, entre outras virtudes, características próprias das soluções consensuais e comummente aceites. Um sinal positivo para relançar o crescimento económico do país também no sector da Construção e do Imobiliário.
Como na altura tinha dito, “pior do que a inimizade entre o bom e o óptimo é o calculismo que pode instalar-se entre inimigos íntimos que disputam os mesmos amores, sejam eles os favores do eleitorado sejam eles a compreensão dos aliados mais bem posicionados e poderosos”.
Essa tentação é incompatível com aquele superior sentido de Estado que prevalece quando, por questões de operacionalidade, reconhecemos que o bom não deve ser alterado por um simples capricho, mesmo que saibamos, sempre, que o bom é verdadeiramente inimigo do óptimo.
A urgência na aceitação dos consensos alcançados impõe-se, em nome das melhores soluções possíveis, em matéria de sustentabilidade, tenham vindo elas de onde tenham vindo, mas mais ainda quando o possa separar aqueles que integram o arco governativo, é insignificante face ao que realmente pode e une.
A qualidade de vida nas cidades, às vezes esquecida, é, como escrevi em tempos, o grande desafio do mercado imobiliário português. Isto passa pela urgente reabilitação e regeneração urbanas, mas passa também pelas não menos urgentes alterações ao regime do arrendamento urbano, em sede da Justiça e da justiça fiscal.
É por isso que não se compreende bem que, o que sempre foi consensual marque agora passo, como se o bom não fosse inimigo do óptimo e todos os consensos obtidos e prometidos não passassem de estratégias eleitorais. O tempo não está para estas inimizades íntimas.
Luís Lima
Presidente da APEMIP
Luis.lima@apemip.pt
Publicado no dia 05 de Outubro de 2011 no Público