A crise dos países periféricos, insuflada pelas agências de rating, cuja transparência e isenção têm sido questionadas até nos Estados Unidos da América onde nasceram e cujos interesses parecem defender, é muito mais a crise de uma União Europeia incapaz de se aprofundar politicamente para se impor no plano mundial como uma das grandes potências económicas, do que a crise dos PIGS, para usar a sigla que os anglo-saxónicos criaram com as iniciais, em Inglês, de Portugal, da Irlanda, da Grécia e da Espanha.
Neste claro desprezo pelas periferias, entre quais se incluem países que já dominaram os mares e foram, por essa via, potências mundiais, estará subjacente a teoria geo-estratégica do chamado coração da terra, teoria que considera suficiente controlar essa “ilha mundial” constituída por parte do território alemão, com extensões à Europa Oriental e à Ásia Menor para que se tenha uma fortíssima influência em todo o Mundo.
Ora, a lógica europeia, nomeadamente a da moeda única, é muito mais a da constituição, ainda longe no horizonte, dos Estados Unidos da Europa, como um espaço de coesão politico, económico e social, que num limite, hoje impensável, poderá estender-se do Atlântico aos Urais, mas jamais a da exclusão das periferias, potencialmente menos consideradas pela sua própria condição periférica. Antever esta Europa, num contexto económico e financeiro difícil não é para qualquer um, nem para Dona Ângela Merkel.
A velha máxima de Jean Monnet, pai desta Europa que ainda se redesenha, segundo a qual “mais do que coligar Estados, importa unir os Homens” , continua a ter sentido, embora pudesse ter expressões práticas diferentes e traduzir-se, por exemplo, na possibilidade da Europa conseguir que todos os seus Estados membros se financiassem às mesmas taxas de juro e não como agora, em que os que mais precisam são os que mais juros pagam.
Luís Lima
Presidente da APEMIP
(luis.lima@apemip.pt)
Publicado no dia 24 de Junho de 2011 no Diário de Notícias