O fenómeno do desemprego em sociedades como a nossa, perante as limitações nos apoios sociais aos desempregados, gera aliciamento directo ou indirecto, aos próprios desempregados no sentido da criação do próprio emprego, numa dinâmica que se traduz na criação de muitas pequenas e micro empresas mas que nem sempre é suficientemente sustentada.

À luz destas soluções, muitos desempregados transformam-se em empresários, embora continuem a ser, na prática, trabalhadores por conta de outrem, com a diferença de que o outrem são eles próprios e com a reconhecida desvantagem de perderem a possibilidade de voltar a beneficiar dos apoios do Estado, se de novo caírem no desemprego.

A justificar o que já em tempos defendi quando apontei o dedo à injustiça que existe quando se exclui os gerentes das empresas (que também são contribuintes da Segurança Social), do acesso ao subsídio de desemprego, estão aí, com a chancela do Instituto Nacional de Estatística (INE), os números dos milhares de  trabalhadores por conta de outrem que desapareceram nesta época.

Estar atento a isto, é também valorizar o estatuto social do trabalho como um dos pilares das modernas sociedades que se organizam para gerar mais riqueza e para a distribuir de forma mais equitativa e justa, em função, naturalmente, do contributo de cada um para essa mesma sociedade. E é, também, uma forma de evitar que o exército dos excluídos ganhe mais gente e faça aumentar certas margens sociais.
 

Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP

Publicado dia 29 de Dezembro de 2010 no Diário Económico

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