Todos os bancos portugueses que se submeteram aos recentes testes de resistência da Autoridade Bancária Europeia (EBA), em cenário muito mais adverso do que o simulado para outros bancos, superaram positivamente a prova, que na linguagem técnica se chama de stress, mas nem assim estas instituições parecem ter condições para aliviar o stress que transferem para os clientes.

A banca portuguesa passa no exame do stress mas as agências de notação atiram-na imediatamente para o caixote de lixo. Nem quero pensar o que aconteceria se o resultado de tais testes tivesse sido negativo – haveria lugar a um verdadeiro acto de fé e seriamos todos queimados vivos no pelourinho das agências de notação.

Uma fogueira para aquecer este Inverno ventoso, sem sol e com chuva, em que caiu a nossa Primavera e o nosso Verão, nesta ilha europeia sitiada pelos cruzados dos mercados, especuladores sem medo e sem fé que facilitam o saque dos que são subjugados sem que lhes seja concedida qualquer hipótese de reacção.

E, no entanto, de acordo com dados fidedignos que a Associação de Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP) cruza, as empresas, mas principalmente as famílias portuguesas, resistem estoicamente, embora estejam a viver, nomeadamente as pequenas e médias empresas, no limite do esforço.

As dações de imóveis por incumprimento dos encargos assumidos na obtenção dos créditos para a respectiva aquisição não estão a aumentar, entre os particulares, como algumas análises apressadas às vezes projectavam. Infelizmente esta tendência não se estende às empresas, nomeadamente à promoção e à construção imobiliária.

A banca portuguesa tem vindo a passar os testes de stress a que obrigatoriamente se submete, mas tal efeito não se reflecte junto dos respectivos clientes, eles sim verdadeiras vítimas desse stress, na exacta medida em que são cada vez mais afastados, pela banca testada, do acesso a um crédito que lhes é vital. Sem esta luz ao fundo do túnel, que importa que a banca passe nestes exames se depois parece ter medo de ser banca e volta a ter um comportamento de risco, pela inacção?

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 22 de Julho de 2011 no Diário de Notícias

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