Tudo, realmente, é relativo. Incluindo a recuperação económica e do nível de vida que já fruímos ou que aspiramos fruir. Hoje, ceifamos como quase natural que muitos filhos se eternizem, já adultos e até com cursos superiores concluídos, na casa dos pais, sem  condições para arrendar ou adquirir casa própria.

A diminuição dos rendimentos dos portugueses que têm a sorte de ter emprego no país, onde a taxa de desemprego é ainda elevada, ou até a transferência dos apoios que se julgariam garantidos pelo Estado Social para as famílias, com particular relevo para essa fiável instituição que são os avós, são sinais dos tempos modernos.

Talvez não seja necessário generalizar soluções que passem pela partilha de apartamentos por várias famílias ou mesmo o regresso, por necessidade, ao estilo de vida do tempo em  que famílias viviam em quartos subarrendados, partilhando, em regime de serventia, cozinhas e instalações sanitárias. 

No que toca à qualidade de vida, travar o aumento de espaço vital que cada foi conquistando, no plano habitacional, é um retrocesso civilizacional – habituamo-nos a poder usufruir de mais espaço mas este pode começar, de novo, a diminuir. O sonho de poder dar a cada criança, na adolescência, um quarto próprio, volta a ser privilégio de menos gente.

Diremos que temos de nos apertar. Diremos que a cama é curta e que é inevitável que nos contentemos com menos. Muitas famílias das que ainda têm ocupações, já não saem de casa nas férias e muitas enviam os filhos para casa dos pais. Os avós voltam a ser um suporte.

Aquela perspetiva de uma merecida reforma, que chega quando os filhos já são grandes, criados e arrumados, de viagens sonhadas e outros pequenos mimos que tiveram de ser adiados enquanto tinham de estar profissionalmente ativos, aquela idade dourada está de novo a adiar-se.

Mesmo com os cortes nas pensões com que ninguém contava, a pensão do avô ou da avó tem de suprir o fraco ou inexistente subsídio de desemprego do filho ou de garantir as férias dos netos, face à impossibili-dade de muitos pais poderem continuar a dar aos filhos essa pausa anual importante para seu crescimento e equilíbrio. Segunda casa, ou casa de férias, é hoje coisa quase só de alguns avós.

Esta é uma das sinas imposta a uma classe média que devia ser a coluna vertebral da sociedade mas que, neste contexto de incertezas, quiçá de alguns erros políticos, volta a perder terreno e, pior do que isso, também a perder a face  e a vontade de ultrapassar estas vicissitudes.

Aquele convite que o saudoso Raúl Solnado imortalizou quando nos incentivava com um contagiante “fa-çam favor de ser felizes” ouve-se cada vez menos. Paralelamente pensamos, cada vez mais, que parece muito difícil fazer com que essa esperança e alegria de viver voltem a marcar o nosso quotidiano, embora eu continue a dizer que importa reagir a tudo isto.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 01 de Julho de 2015 no Público

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