A mais baixa das três avaliações que em Portugal incidem sobre um bem imobiliário, está finalmente e felizmente a subir, numa inversão de tendência agora rumo ao valor real do bem que é, ou deveria ser, o valor de referência desse mesmo bem num mercado saudável, isto é, a funcionar normalmente e sem fatores estranhos a distorcer o próprio mercado.
Refiro-me à avaliação bancária dos bens imobiliários cujos últimos valores registam uma tendência para subir. Esta avaliação, que já foi a mais alta de todas, tem estado agora em baixa, muito mais baixa do que a avaliação que é feita pelas autoridades fiscais e abaixo daquele que deveria ser o valor de referência no Mercado.
Em Portugal, alguns produtos imobiliários sofreram ajustamentos de preços, até por emergências da promoção imobiliária, mas o preço das casas não podia continuar a ser fixado ao sabor de interesses pontuais, e mais ainda no nosso país onde não houve bolha imobiliária. É bom lembrar que a valorização do imobiliário português na última década acompanhou a inflação, ao contrario dos países que deixaram criar uma bolha, em alguns casos já brutalmente esvaziada.
Portugal, tal como a Alemanha, resistiu, reconhecidamente, à bolha especulativa que assolou o imobiliário nos últimos anos. Entre 1996 e 2006, a valorização acumulada real dos preços da habitação na Alemanha e em Portugal fixou-se a níveis inferiores a 10%, valor que sobe para os 80% nos Estados Unidos, na Holanda e na Grécia, para os 110% em Espanha (110%), para os 140% no Reino Unido e para os 180% na Irlanda.
A urgência de liquidez não pode ser a regra na fixação em baixa dos preços, como sempre aliás defendi. Nem a urgência de liquidez de proprietários ou promotores, nem a ânsia que algumas instituições vivem por força da necessidade de se livrarem de ativos imobiliários indesejáveis. A avaliação bancária dos imóveis não pode ser mais apertada ou mais larga em função da menor ou maior vontade em conceder crédito imobiliário respaldado no próprio bem imobiliário.
As outrora generosas e pecaminosas avaliações bancárias de imóveis, tão generosas que o correspondente financiamento dava para comprar a casa, para a mobiliar e para adquirir carro novo a condizer, contavam com uma inflação muito mais significativa, inflação que, em pouco tempo, cobria aquela generosidade.
Sabemos que os preços no mercado imobiliário variam sempre em função da localização e da qualidade da construção. Localizações apetecíveis, em zonas residenciais de excelência de grandes cidades, junto ao mar ou na margem de certos rios, ou produtos imobiliários de elevada qualidade, são, naturalmente mais elevados do que os preços dos imóveis que aguardam interessados em periferias muito povoadas e de acentuado processo de degradação urbanística e social.
A inversão da tendência para acentuar as desvalorizações bancárias dos bens imobiliários é, por tudo isto, uma boa notícia que tenho de aplaudir como um ato de gestão lúcida por parte do sistema financeiro e como um real contributo para o relançamento da Economia.
Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com
Publicado no dia 03 de junho de 2013 no Diário Económico