O montante do crédito concedido pela banca ao consumo voltou a subir em Setembro pelo segundo mês consecutivo, em contra ciclo com todos os demais indicadores, nomeadamente o valor do crédito à habitação que continua a descer.
Num país onde o problema com o imobiliário não decorre de qualquer bolha de preços e onde os preços do património construído são, há muito, equilibrados e correspondem a uma relação preço/qualidade invulgarmente favorável, esta tendência é estranha.
Sabemos que continua a haver procura no mercado de compra e venda para habitação e que há oferta, o que torna este mercado um destino seguro para quem quer investir com uma segurança muito superior à de outros investimentos que a crise mostrou serem voláteis.
Por outro lado, a acumulação de ativos imobiliários indesejáveis na banca comercial resulta essencialmente da situação gerada com um aumento inesperado e exagerado da austeridade, a retirar rendimentos às famílias em montantes jamais imaginados.
Com muitos dos clientes das carteiras do crédito à habitação em situação limite no que toca à taxa de esforço, o esticar da corda da austeridade gerou incumprimentos e dações, aumentando o parque das chamadas casas dos bancos.
Estas são, agora, as poucas propriedades imobiliárias cuja aquisição merece financiamento da banca mas a verdade é que estas facilidades não são suficientes pois muitos dos potenciais interessados nas casas dos bancos só conseguem comprá-las se venderem a casa onde vivem.
E poucas são as casas que se vendem sem financiamento num ciclo vicioso que o financiamento privilegiado á aquisição das casas dos bancos não irá alterar, mesmo que se concretizem alguns negócios que até parecem bons para todas as partes envolvidas.
Neste quadro é um pouco estranho e até algo incompreensível que aumente o crédito ao consumo e continua a baixar o crédito para aquisição de habitação própria, sabendo-se, como se sabe, que não há bolha imobiliária de preços e que há condições para o mercado.
Sem os exageros do tempo que se aumentava o montante do crédito para habitação para contemplar a aquisição de bens de consumo, importa que a banca comercial volte a fazer funcionar este mercado, até mesmo no próprio interesse da banca e do escoamento das casas dos bancos que precisam, para que tal aconteça, que as outras também se vendam.
Luís Lima Presidente da APEMIP e Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portugiuesa
luis.lima@apemip.pt
Publicado no dia 10 de novembro de 2012 no Jornal de Notícias