Por estes dias de luto mundial pelos crimes, em todas as latitudes, que terroristas organizados estão a cometer quase impunemente, a morte, aos 40 anos, de Jonah Lomu, um jogador de râguebi da Nova Zelândia que era já uma lenda, apesar da idade, faz-nos pensar em como pode ser uma ilusão aquilo que vemos e damos como certo e garantido.
Jonah Lomu tinha uma imagem invejável de um grande atleta de alta competição. Protagonizou a melhor jogada de um Mundial num ensaio concretizado na meia-final do Mundial de râguebi em 1995, frente a Inglaterra. Quem o olhava sem saber que tinha a grave doença que viria a ser-lhe diagnosticada nesse mesmo ano jamais o imaginaria a chegar ao fim aos 40 anos.
Era uma doença renal rara que determinou um transplante e a dependência de tratamentos regulares de diálise, mas não se notava mesmo considerando que ela determinou o fim da carreira dele enquanto atleta de alta competição quando já era uma estrela mas ainda seria legítimo esperar muito mais, por ser muito robusto e veloz para a modalidade.
A morte, prematura como todas as mortes, de Jonah Lomu talvez tenha gerado uma comoção muito forte pela idade em que ocorreu e por surpreender aqueles que o reconheciam como uma estrela de uma modalidade, de prática física e ética bem vincadas, associada às elites, cuja imagem parece incompatível com o desaparecimento súbito e inesperado.
Tal como as recentes mortes de Paris e de outras cidades de outros continentes massacradas pelo terrorismo, a deste jogador ensina-nos a fragilidade da nossa vida, em aparente contraste com a generalidade da vida no mundo vegetal (as árvores morrem de pé?) e da existência no mundo mineral, numa divisão antiga e já pouco utilizada.
Neste sistema ainda reconhecido, criado em meados do século XVIII por Carl Linnaeus, todos os elementos eram catalogados nas categorias animal, vegetal ou mineral, três reinos com uma hierarquia entre si, reino animal no topo, vegetal e mineral, o último dos quais, onde podemos e devemos incluir o património imobiliário construído.
Embora no topo, nós que pertencemos ao Reino Animal, somos os mais frágeis, com uma esperança de vida abaixo dos cem anos, uma insignificância quando comparada com a longevidade de algumas árvores, como por exemplo a oliveira, ou com alguns minérios mesmo quando trabalhados e incluídos numa construção com a marca humana, como é o imobiliário.
O estranho, em alguns momentos, é que a nossa mente, ao olhar para o corpo que a suporta, por exemplo quando se olha ao espelho, não quer ver ou não identifica a fragilidade da vida em que se traduz, quando, em contraste, dificilmente considerará jovem uma árvore com alguns séculos de existência ou reconhecerá vida nas supostas ruínas de uma casa abandonada.
Desafiei-me hoje a cruzar esta temática dos espaços que reconstruímos para melhor vivermos – o imobiliário que é sempre o mote destas reflexões – com a nossa frágil vida de fiéis e e pouco duradouros ocupantes desta Terra onde vivemos para lembrar que esta condição também importa quando olhamos para as nossas coisas.
Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com
Publicado no dia 23 de Novembro de 2015 no Jornal i