São poucas as pessoas que ainda usam suspensórios, esse acessório de vestuário que suspende as calças com tiras seguras nos ombros. Hoje, em desuso sem que possam ser considerados em vias de extinção, os suspensórios remetem-nos, em regra, para um certo passado sendo principalmente apreciados pelos mais anafados a quem os cintos pouco conforto oferecem.
Tampouco continuam a ser vistos como muito úteis para lavradores e para operários nomeadamente quando estes usavam calças de bolsos largos, invariavelmente carregados de ferramentas e utensílios que fariam descair as calças se estas apostassem nos modernos cintos de furos. Com tais pesos nem no último furo se aguentariam, tal seria o aperto provocado.
Esta é, aliás, a imagem que me ocorre quando reflicto sobre o aperto que a classe média portuguesa está a sofrer, ao ser comprimida por um velho cinto no qual, para agravar a situação de desconforto, foram feitos, à pressa, mais dois ou três furos, todos desalinhados e sem uma distancia equilibrada entre eles. Resultado, no último furo ficamos verdes de raiva, como nos “desenhos (des)animados” na expressão de um amigo meu que já usou suspensórios mas teve de regressar ao cinto.
Nos cânones da beleza feminina, a cintura de vespa teve a sua época mas exigia, quase sempre, o sacrifício do espartilho, peça de vestuário que apertava nas costas, com uma violência quase caricatural, graças às virtudes dos ilhóses e à elasticidade e resistência – imagine-se – de barbatas de baleia. Recorde-se que o espartilho inspirou-se no corsolete, a peça que nas armaduras medievais protegia o tronco.
Desconforto idêntico sofre, repito, a classe média portuguesa, sobre quem recai um insuportável castigo fiscal que ameaça sugar as poucas poupanças que ainda restavam a esta fatia central da nossa pirâmide populacional, diminuindo drasticamente o consumo interno e inviabilizando até investimentos que poderia ajudar a fazer a diferença na urgência do crescimento económico.
Uma cintura de vespa, sem a sombra do pecado de uma barriguinha, poderá oferecer uma boa imagem, mas a forma como apostamos em nos adelgaçar repentinamente nem sempre é a mais saudável e comporta riscos que podem comprometer, irreversivelmente, o nosso bem-estar a curto e a médio prazo. Isto é válido quer para o corpo das pessoas quer para os sectores económicos, como, por exemplo, o da Construção e do Imobiliário que aguenta tanto aperto e tanto espartilho.
Luís Lima
Presidente da APEMIP
Luis.lima@apemip.pt
Publicado no dia 07 de Setembro de 2011 no Público