A banca portuguesa vai ter de encarar de frente o problema da subavaliação do património imobiliário sob pena de vir a sofrer fortes perdas pela acumulação de imóveis “devolvidos” em dações por incumprimento das obrigações resultantes do crédito. Perdas bem maiores do que as projetadas pelo Banco de Portugal quando, na passada quinta-feira alertou para os perigos da redução dos preços das casas.

Esta redução, artificial e contra a qual tenho vindo a bater-me, não resulta apenas do abrandamento da procura, como refere o Banco de Portugal. Resulta da conjugação de uma série de erros e de equívocos não estando minimamente suportada por qualquer sobrevalorização anterior dos preços, conforme o próprio banco central também reconhece no aviso à navegação que lançou.

Não há justificação para que o valor médio do preço metro quadrado tenha vindo a baixar até atingir valores mínimos históricos, mesmo considerando alguma “conveniência” em sede da avaliação do crédito a conceder, para suportar uma eventual transação por parte de quem a deseje mas tenha de recorrer ao crédito. E embora as casas não valham menos por serem avaliadas por baixo, a verdade é que um cântaro pode quebrar por ir tantas vezes á fonte.

Estatisticamente, dizem as estatísticas (passe o pleonasmo), o valor médio da avaliação bancária dos imóveis tem tendência, no momento atual, para descer. É um fenómeno inverso ao da avaliação fiscal do património imobiliário, contradição que todos compreendemos e, implicitamente, aceitamos sem refletir o suficiente sobre os riscos de tais faltas de rigor.

Nem o oito dos bancos, nem o oitenta do fisco, dois números que se afastam dos verdadeiros números do mercado, colocando em risco o próprio mercado e com ele a possibilidade de se dinamizar o arrendamento urbano e, em consequência quase direta, a própria reabilitação e regeneração urbana dos grandes centros, um desafio a assumir também em nome de um desenvolvimento sustentado.

Sabemos –  e eu tenho igualmente alertado para essa realidade – que não falta quem, de fora ou objetivamente ao serviço de quem está de fora, aposte e incentive essa desvalorização generalizada do nosso património construído com a clara e indisfarçável intenção de adquirir esta riqueza a preços muito favoráveis para quem compra. 

Sem querer insinuar, neste cenário, a existência de qualquer teoria da conspiração, apesar das vozes que pretendem acusar-me de tal, tenho a obrigação de voltar a sublinhar que a desvalorização artificial do património imobiliário, num país onde mais de 70% das famílias são proprietárias da casa que habitam, corresponderá a um maior empobrecimento colectivo, banca incluída.

Evitavelmente, espero eu.

Luís Lima

Presidente da APEMIP e Presidente da CIMLOP

Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa.

luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 05 de dezembro de 2012 no Público

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