A situação da Europa, nomeadamente a situação dos países da Zona Euro, exige bom senso e pragmatismo. E o bom senso e o pragmatismo que a Europa, Portugal incluído, carecem, está bem patente na reacção da Senhora Merkel à eleição do novo Presidente da França, François Hollande, reconhecendo a necessidade de uma concertação no que concerne ao crescimento, tendo em vista a criação de mais emprego e consequentemente a dinamização dos mercados internos. A Alemanha vive, em matéria de emprego, um dos melhores momentos de sempre com uma das mais baixas taxas de desemprego desde a Segunda Guerra, mas sabe que a situação nos países da Zona Euro não é tão favorável e que o contágio poder ser perigoso, mesmo para economias sólidas.

Também o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, fez questão de sublinhar, na hora dos votos de felicitações ao novo inquilino do Eliseu, que compartilha com o novo Presidente da França a intenção de dar prioridade à reanimação do crescimento na Europa, embora tenha acrescentado que tal crescimento não pode por em causa o esforço que tem vindo a ser desenvolvido no sentido da consolidação orçamental e da diminuição das dívidas dos Estados. As palavras de Durão Barroso foram claras neste sentido. O presidente da Comissão  disse estar de acordo com a reanimação de Economia Europeia na base de um crescimento sustentável que crie mais emprego.

A França é um país fundamental para a edificação da Europa, mas nem a França em aliança com a Alemanha, num eixo que sempre foi decisivo para este espaço de forte influência no Mundo, conseguirá consolidar a Europa como uma potência se os demais países da União soçobrarem no compasso de espera que uma velocidade mais lenta acabará por impor, nomeadamente nos chamados países periféricos da Europa do Sul, Portugal incluído. Ora um dos perigos que ameaçam o futuro da Europa é, precisamente, o aumento brutal do desemprego com todas as consequências para a Economia e para a Sociedade.

O desemprego, em especial quando cresce violentamente, mina os mercados internos e, neste aspecto, as própria Economias, além de fazer diminuir a auto-estima das populações e de fazer aumentar o risco do aparecimento de conflitos sociais. O aumento descontrolado do desemprego potencia um ciclo vicioso que põe em causa, irreversivelmente, muitos sectores da Economia gerando caldos de cultura que também podem atentar contra a própria matriz de uma sociedade que fomos construindo como sendo a mais civilizada.

Estes problemas são tranversais a muitas sensibilidades políticas, como o provam a sintonia de intenções que pode unir uma democrata-cristã como Angela Merkel a um socialista como François Hollande, mesmo que durante a campanha eleitoral para as Presidências francesas a chanceler alemã tenha mostrado mais simpatias pelo derrotado Nicolas Sarkozy. Uma derrota verdadeiramente anunciada não por questões ideológicas mas pela vontade que as populações têm de sobreviver e de enfrentar as mais duras adversidades. É isso o que realmente está sempre em causa, pragmaticamente.

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 09 de maio de 2012 no Público

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